sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Conquistando o Monte Roraima

Em outubro de 2011 fui me aventurar pelo trekking do Monte Roraima, o sétimo maior pico do Brasil - 2739m. Foi uma das viagens mais incríveis que já fiz. Para compartilhar e para que outras pessoas saibam um pouco o que é o imponente Monte, escrevi esta matéria para o site webventure.

Segue A MATÉRIA QUE ESCREVI e, embaixo, o link de acesso ao site da webventure, onde foi publicada a matéria.

Texto Paloma Denaro



Expedição ao mundo perdido

Que tal encarar umas férias de tirar o fôlego, num lugar ainda pouco explorado por brasileiros, de riqueza natural e histórica incomparável?


Depois da subida ao Monte Roraima, mais do que nunca, posso afirmar que, em viagens de aventura, por melhor que seja o check list e por mais informações que se colete previamente, não adianta... Situações inesperadas, impreterivelmente, vão acontecer. E, que bom, porque são essas as melhores histórias para contarmos depois.

“Perrengues” à parte, a caminhada de sete dias foi uma grande e agradável surpresa do início ao fim. O Patrimônio Histórico da Humanidade é também considerado um dos lugares mais antigos do mundo, com dois bilhões de anos, aproximadamente. Talvez por isso o Monte Roraima seja muito mais do que um abrigo de águas cristalinas, quartzos brancos e pegadas. Talvez por isso o Monte Roraima inspire tanta gente a mudar, definitivamente, o modo de agir e pensar. Quem sabe?

O que eu sei, ou, pelo menos, observei, é que no meio da Amazônia, a imponente montanha de 2739 m de altitude não brilha sozinha. Ao longo dos 29Km de caminhada até o topo, viajei mergulhada na savana roraimense e, pelo lado venezuelano, na Gran Sabana. Além do mais, o ecossistema amazônico é muito influente na biodiversidade dessa região e torna a paisagem um colírio da melhor qualidade para os olhos.
Rios e cascatas despencam das montanhas com formato de mesa (os tepuys) – como o próprio Roraima – contribuindo para um visual ainda mais deslumbrante, além, é claro, da comodidade de termos água durante todo o trajeto, bom refresco para os corpos quentes e suados e um alívio para as costas, já que não era preciso carregar litros e mais litros de água. Quem está acostumado a fazer travessias e grandes caminhadas sabe bem do que estou falando.

E por falar em peso... Por toda a extensão e variação climática do local, que fica acima da linha do Equador, é bom deixar claro que estar em boas condições físicas é quase questão de sobrevivência nesse lugar.
Embora alguns sedentários já tenham realizado o feito, é extremamente recomendável um bom preparo físico para suportar as longas distâncias, incontáveis subidas e descidas e caminhadas por pedras. Tudo é claro, debaixo de muito sol, chuva, muitas vezes, e em companhia da inseparável mochila pessoal, que deve pesar, no máximo um terço do seu peso.

Deixando o desgaste físico de lado, o que vivi ali, eu e os outros cinco integrantes da expedição, é história, é natureza viva, é a grandiosidade do Universo. O silêncio que, impreterivelmente conseguimos ao longo da caminhada – afinal mesmo os mais falantes se rendem ao cansaço, em algum momento – proporciona uma viagem interior magnífica. Senti despertar um respeito ainda maior pelas montanhas, rios, pedras, plantas, pelo sol, pela chuva e, especialmente, pelos índios Pemons, que habitam aquela região e tão bem cuidam dessa reserva natural e até cultural, já que mantêm viva a tradição nas comunidades indígenas na aldeia de Paraitepuy, nosso ponto de partida.

Chegando à aldeia

Para um trekking divertido, minimizar ao máximo os problemas e evitar surpresas desagradáveis é essencial. Para tanto, sugiro que você saia totalmente preparado do Brasil, com carro, guias e carregadores (índios que levam barracas e comidas) previamente agendados. Para brasileiros, a viagem começa em Boa Vista, capital de Roraima.
Dali até Pacaraima, cidade que faz fronteira com a Venezuela, são aproximadamente 200Km. Carimbado o passaporte, pronto! Um passo mais e você está em Santa Elena de Uairén. Prepare o “portunhol” e... Bien venido a Venezuela!

Sim...O maior ponto turístico de Roraima e o sétimo maior pico brasileiro não é exclusividade do Brasil. Venezuela e Guiana Inglesa também têm o gostinho de chamar de “nossa” essa maravilha. A maior parte, por sinal, 85%, está em território venezuelano, razão pela qual guias e índios têm o espanhol como língua oficial por ali.

Chegando em Santa Elena embarcamos num 4X4 para chegar à aldeia de Paraitepuy, onde vivem cerca de 600 índios e onde, de fato, começaria o trekking.

Primeiro dia de trekking

Todo bom montanhista e aventureiro já entendeu que a diversão e beleza de subir uma montanha não está em chegar ao topo, mas sim em desfrutar o percurso, observar, admirar, contemplar. Aos caminhantes de primeira viagem, é bom ter isto em mente, porque a beleza está em todo o trajeto, e não concentrada em um lugar, muito embora o monte em formato de mesa reserve paisagens de tirar o fôlego em seu ponto mais alto.

Se você não é um Pemon, ou seja, não nasceu e cresceu ali, precisará, pelo menos, dois a três dias para chegar ao cume. Isto é, claro, caminhando sem pressa, com roupas e calçados adequados. A primeira noite é às margens do Rio Tek, onde também acontece o primeiro e tão esperado banho, depois de 16Km de caminhada. Aliás, enquanto relaxávamos e nos banhávamos nas refrescantes águas do Tek, os índios nativos montaram as barracas e nos prepararam um delicioso jantar, que seria degustado não exatamente à luz de velas, mas de head lamps (ou lanternas de cabeça. Anote aí. Outro item obrigatório).
Felizes e exaustos, dormimos cedo e tranquilos até o dia seguinte. Levantamos antes do sol, tomamos um reforçado café da manhã e seguimos viagem.

Rumo ao acampamento base

A meta para o segundo dia é dormir aos pés do Roraima. São em média mais nove quilômetros de caminhada e, no meio do caminho, uma parada para se refrescar e curtir um dos visuais mais marcantes do percurso: a união dos rios Tek e Kukenán. Alguns acampam por ali, mas nós continuamos, rumo ao objetivo traçado: acampamento base.
Depois de mais algumas horas de esforço, a recompensa... O almoço!
O guia Léo e os índios preparavam tudo com muito carinho e a comida, que, de qualquer maneira seria bem vinda, tornava-se um banquete.
Descansar, fotografar e aproveitar o fim de tarde olhando para o paredão, que, finalmente, agora, estava ali... Tão próximo. O Monte Roraima crescia diante dos nossos olhos, a aventura ia ficando mais emocionante e a montanha, cada vez mais imponente.



Montanha sagrada

Atacar o cume, expressão comumente usada por montanhistas, não é nada bem vinda, muito menos utilizada pelos índios, guias ou qualquer outro que já tenha visitado e entendido um pouco do que essa montanha representa para a população local. Conquistar. Se você usar este termo os deixará bem satisfeitos.
Ainda assim, há quem diga que o visitante não conquista a montanha. A montanha se deixa, ou não, ser conquistada...


Da “Janela” (La Ventana, em espanhol), teríamos maior noção da imponência do Monte Kukenán, suas quedas d’águas e o imenso vale de florestas que há entre os dois tepuyes. Teríamos, caso as nuvens tivessem dado uma trégua, o que não aconteceu naquele momento. Mas, sem problemas... A montanha é puro desfrute, faça frio, calor, sol ou chuva, o importante é estar ali e sentir, verdadeiramente, com a alma, cada pedacinho dela.

Para finalizar o tour de três dias pelo topo, há ainda o Vale dos Cristais – e o nome faz jus à quantidade de cristais que se vê por lá, acredite! – El fosso e o Ponto triplo, o marco piramidal encravado no topo da montanha, que demarca o limite de fronteiras entre o Brasil, Venezuela e Guiana. Mas, cuidado! Não caia em tentação, afinal é proibido levar qualquer pedrinha desse lugar e, não raro, índios revistam as malas na volta a Paraitepuy.
Resistir ao encanto dos montes também é tarefa quase impossível. Imbuídos de uma grande audácia, nos aventuramos em fotografias desafiadoras, sentados na pontinha dos abismos. Que frio na barriga!











                         A viagem ao mundo interior

Trata-se de uma aventura única, com todo o conforto que é possível num lugar inóspito como esse. O que se traz da caminhada ao Monte Roraima é muito mais do que um belo bronzeado e uns quilinhos a menos. Diante de tamanha imensidão e de longos dias compartilhados com algumas pessoas, consigo mesmo e com um povo simples e, ao mesmo tempo, de uma educação ímpar, qualquer um que chegue a vivenciar dias como esses vai, no mínimo, refletir sobre o verdadeiro sentido da vida e, quem sabe, voltar com a bagagem um pouquinho mais pesada... Mas o peso, desta vez, será suave. No caminho de volta carrega-se as inúmeras experiências, os novos conceitos, as reflexões, o aprendizado... O caminho de volta também é uma grande viagem, mas desta vez, ao mundo interior de cada um.





INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Onde fica: O Monte está localizado dentro do Parque Nacional de Canaima, na Venezuela. Considerado o maior parque Nacional da América Latina, Canaima espalha beleza ao longo de seus três milhões de hectares. Do lado brasileiro, fica no Parque Nacional do Monte Roraima, em Pacaraima-RR.

Índios da região: Pemons, da etnia Taurepang.

Melhor época para ir: no inverno deles, de setembro a março, quando chove menos.

Grau de dificuldade: Médio - O acesso ao Monte Roraima é possível à maioria das pessoas, mas é preciso ter consciência de que a realidade da trilha é difícil e cansativa. Não é necessário experiência, porém exige disposição e condicionamento físico.

Higiene pessoal: é recomendável o uso de produtos biodegradáveis, para contribuir com a preservação do local, claro!

Quem leva:

Fomos com a Roraima Adventures – empresa especializada em turismo – há nove anos no mercado. A agência providencia tudo, manda um check list para garantir que levemos todo o necessário e faz um briefing extremamente minucioso, evitando qualquer transtorno e prevenindo acidentes. Gostei muito, porque o Magno e sua equipe nos fizeram viver a viagem desde o momento em que fechamos tudo. Foram super atenciosos, sanaram todas as dúvidas e nos fizeram amar o Monte Roraima mesmo antes de pisar lá.

Roraima Adventures Turismo Ltda
R. Cel Pinto, 86 - sala 106
Centro - Boa Vista – RR
CEP 69.301-150
(95)3624-9611 / 3623-6972
www.roraima-brasil.com.br

Outras sugestões de agências:

• Pisa Trekking (SP) fone: (11) 5052-4085 - www.pisa.tur.br
• AMBIENTAL EXPEDIÇÕES (SP) - 11 3818-4600 - www.ambiental.tur.br




LINK PARA A MATÉRIA: http://www.webventure.com.br/destinoaventura/n/relato-do-trekking-de-29-km-que-leva-ao-topo-do-roraima-/31001?pag=1


Um comentário:

  1. Detalhe Importante:
    Se você tiver atitudes de respeito com a montanha, não há dúvidas que a
    experiência com ela será muito mais profunda.
    Jamais produzir queimadas.
    Evite pisar nas plantas fora da trilha.
    Nunca riscar ou coletar pedras, cristais, plantas, animais, ou qualquer outra
    coisa do lugar.
    Lembre-se: na volta do trekking, na aldeia, HAVERÁ revista pelo Guarda do
    Inparques. Se for descoberto que alguém trouxe algo, será advertido
    formalmente, terá o material apreendido, e o infrator poderá ser DETIDO pelo
    Inparques e responderá individualmente por sua atitude. Caso a detenção o
    obrigue a permanecer na Venezuela, o grupo seguirá de volta para o Brasil. Por
    isso, NÃO TRAGA NADA DA MONTANHA.

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